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Exposição Não Reagente
Montagem Murillo La Greca, Recife (2023)
Curadoria: Maíra Gamarra

O que pode uma mulher?

E quando ela se torna mãe?

 

Se ainda precisamos fazer essa pergunta é porque algo está errado, algo está muito errado. Para não perder tempo apontando o dedo para culpados que já sabemos bem quem são, seguimos adiante, como sempre. Porque o que nos interessa aqui é utilizar a pergunta como disparador para a reflexão. 

 

Não é difícil nomear a culpa ou a responsabilidade, o ponto é que, geralmente, ela tem o gênero feminino como destino, assim como as violências e abusos, como os limites e os nãos. Não pode!

 

A roupa era curta, bebeu demais, não fechou as pernas, não se deu ao respeito, falou demais, não se calou, chora sem motivo, não sabe se expressar, sempre exagera, é frágil, não sabe cuidar, não coloca limites. A lista é longa, bem longa. 

 

Ser ou se tornar mulher é um caminho tortuoso. E, em algum ponto desse caminho, a maternidade aparece para nós mulheres como uma pergunta, como uma questão, como uma cobrança, como uma obrigação, como única possibilidade de destino. Construir nossa identidade como mulheres é, cedo ou tarde, deparar-se com a (im)possibilidade de nos tornarmos mães, diante de uma sociedade que impõe, mas não apoia. Julga, mas não acolhe. 

 

Priscilla Buhr aponta o dedo em muitas direções, é sutil e provocativa em sua crítica, é poética porque assim é a sua obra, transforma dor em poesia. Transforma dúvidas em imagens. A leitura não é óbvia, por mais direta, permite que possamos tecer diálogos a partir daquilo que nos toca, porque somos muitas e nossas experiências são plurais. 

 

A exposição é a culminância de um diálogo que se inicia lá trás, quando Priscilla começa a construir o Não Reagente, ainda errático, sem tanta forma, como muitos dos seus projetos se iniciam, desde aquilo que remexe dentro dela e que escapole como arte. Priscilla lida com o seu processo artístico não muito diferente ou distante da vida mesma, suas experiências, vivências, desconfortos, incômodos ou questionamentos se tornam criação. 

 

Por sorte, pude acompanhar os passos iniciais dessas inquietações desde o início do projeto e a troca continuou ao longo dos anos e diferentes etapas do trabalho. Estar tão perto para vê-lo nascer e, ao mesmo tempo, longe o suficiente para vê-lo florescer, foi fundamental para poder pensar junto com Priscilla a curadoria e expografia desta mostra, que aborda o universo da maternidade e seus desafios dentro de um sistema patriarcal cruel e opressor com mulheres, mães e cuidadoras, ao mesmo tempo que faz uma crítica contundente e, ainda assim, flerta e brinca com os altos, baixos e reviravoltas da condição de mãe artista solo.

 

As perguntas que norteiam o trabalho interpelam sobre espaço, visibilidade, ausência, escolha, amor, exclusão, responsabilidade, indiferença, cobranças sociais, resistência, solidão, exaustão. 

Esperamos que as provocações presentes na exposição cheguem igualmente a homens e mulheres.

Texto: Maíra Gamarra

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Montagem de Não Reagente no Museu Murillo La Greca, no Recife, por meio do Sistema de Incentivo à Cultura da Cidade do Recife.

Vernissage de Não Reagente no Museu Murillo La Greca com bate papo

entre Priscilla Buhr e a curadora da exposição, Maíra Gamarra

com mediação de Geisa Agrício.

Atividades voltadas para o público infantil durante o

período expositivo do Não Reagente

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