PRISCILLA
BUHR
AutoDesconstrução
Através de um corpo | por Geórgia Quintas
Corpos habitam as fotografias. É assim, desde sempre. E eles prodigiosamente não se esquivam. Presos na imagem, se revelam, provocam, se contorcem, falam, perguntam, duvidam, questionam, sonham, desejam, se descobrem…
Quando ela resolve experimentar seu corpo, um mundo paralelo passa a ganhar forma. Ao se autofotografar, o corpo feminino é investigado e diluído no vazio negro da escuridão. Os fragmentos desse corpo emergem através de certo diálogo íntimo com feixes de luz. A imagem, que começa a surgir dessa reflexão consigo mesma, já não corresponde ao que a autora pode articular, mas sim ao que a fotografia lhe apresenta. O acaso e a ausência do olhar por trás da câmera passam a deslocar a sensação de controle que temos ante a própria identidade.
Assim, livre de artifícios, sozinha, sem espelhos, trancada consigo mesma, seu corpo tornou-se vestígios que narram sugestões e sentidos só percebidos pela câmera fotográfica. Serenamente, vemos a cartografia sensível deste corpo desvelar-se em hipérboles da realidade imaginada pela fotografia.
Nesta primeira exposição da jovem fotógrafa Priscilla Buhr, a força poética é consequência de um caminho dos mais complexos e emaranhados da expressão fotográfica: perceber que somos o que imaginamos ou o que buscamos. Por que se autofotografar? Não será porque a fotografia é a pretensão de desconstruirmos nosso olhar? Por pensarmos que somos UM até vermos nosso retrato?
As imagens do ensaio AutoDesconstrução são íntimas, sutis, inquietas. Não por serem femininas, mas, muito mais, por terem sido determinadas pela dúvida, pela coragem em cair no limbo complexo de ser ao mesmo tempo autora e tema. Nesse processo, a beleza e a suavidade do corpo nos levam para um imaginário repleto de subjetividade e de novas percepções. Fotografias que silenciam o prosaico e, sutilmente, conotam o frescor no não-visto.
*AutoDesconstrução foi exposto no MAMAM do Pátio - Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães em dezembro de 2010 e na Galeria Eulengasse, em Frankfurt, Alemanha em 2011.